quinta-feira, 9 de junho de 2011

REENCONTRO COM O DIÁRIO


"Persistência da Memória" - Salvador Dali



O friozinho, a chuva e a preguiça me convidava para ficar na cama vendo filmes, lendo um livro ou ouvindo algumas músicas, mas corajoso que só, resolvi encarar a arrumação da estante de livros que se encontrava a ponto de cair com a tamanha bagunça em que se encontrava. Os livros estavam todos foram de ordem, alguns por cima dos outros e abandonados em meio a poeira e o desprezo.
Foi muito bom mexer neles, tirar tudo do lugar, limpar e começar a organizar título por título, tema por tema, folheá-los, retomar minha amizade com eles.
Tanto que entre um e outro, tive a grata surpresa de achar escondido um caderno de brochura capa dura que me chamou a atenção. Eu sequer me lembrava da existência dele e ao abrí-lo tive a emoção de me deparar com o meu diário improvisado de 1995, quando eu ainda era apenas um adolescente.
Rememorei coisas que jamais me lembraria hoje que estou acima dos 30 anos. Foi muito legal e divertido. Presentes de aniversário, dias de consultas médicas, tarefas escolares, lembretes de pessoas que não conheço mais, telefones antigos de 7 dígitos, anotações e estudos. Vi que eu gostava de estudar óptica. Coisa que me assusta hoje. Alguns pequenos contos mal escritos, outras histórias que eu escrevia e fazia uma observação "Roteiro do meu próximo romance" e que ao reler, não passam de estórias óbvias e sem graça.
Mas algumas coisas no caderno diário me chamaram a atenção. Uma delas reproduzo abaixo, que é uma espécie de poema juvenil. Bastante pobre de linguagem mas bem bonitinho. Quando eu fechei o caderno e coloquei na estante me perguntei, será que eu me emburreci agora que estou com mais de 30 anos?

GÊMEAS FELIZES

Aninha tem amor à vida
Verinha não tem prazer em viver
Enquanto uma quer ir à Flórida
A outra só pensa em morrer.

Aninha não deixa aparecer a idade
Verinha detesta vaidade,
Uma vai ao baile da saudade
Outra só faz maldade.

João, Verinha amou;
Com João Aninha casou

Enquanto João e Aninha o amor uniu
Verinha Fugiu.

São duas mulheres diferentes,
Gêmeas só na aparência
Verinha diz ser carente
Aninha só usa a inteligência.

Aninha vive e por isso é feliz;
Enquanto Verinha, sem amor
Achou melhor virar meretriz.

Luizinho Brito (24/9/1995)