sábado, 25 de agosto de 2007

UM BEIJO - Olavo Bilac

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

TRISTEZA ESPERADA

Eu não sei mais o que pensar das coisas e pessoas que me aparecem repentinamente.
Fatos que muitas vezes me proporcionam breves momentos de estranha alegrias. E eis que me encho de vida, crio momentos, invento situações, me realizo. E esses repentinos são tão inopnados que se esvaem rapidamente e me deixam numa situação difícil, sem saber como desmontar tudo que criei, os momentos, as invenções e novamente me sobra o triste e penoso trabalho de sugar para fora de mim toda a vida que me preenchia.

domingo, 19 de agosto de 2007

UM BOM ARTIGO CONTRA A HOMOFOBIA

Muito interessante e vale ser lido por todos o artigo do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello, intitulado " A Igualdade é colorida" publicado na Folha de São Paulo deste domingo. Ele analisa brilhantemente a atual situação dos homossexuais perante a justiça brasileira. Passa alguns dados importantes, no que diz respeito a homofobia, que segundo ele mata cerca de cem homossexuais anualmente, colocando o Brasil na primeira posição no ranking nesse tipo de crime. Também se refere ao grande problema da sociedade brasileira em não reconhecer as relações homoafetivas como geradoras de direitos. Diz ainda que o Judiciário gaúcho se sobressai pela modernidade, havendo sido o primeiro a julgar ações ligadas a vínculos homoafetivos na vara da familia e não na cível, num caso de falecimento do parceiro de um casal que viviam juntos a 47 anos.
Segundo ele, a jurisprudência vem avançando. A Justiça vem admitindo o direito de casais homoafetivos à guarda e adoção de crianças.
Cita algumas leis regionais, tais como a lei n° 5.275/97, vigente em Salvador e que proíbe a discriminação homofóbica e rememora o projeto de lei n° 5003/2001 que enquadra a homofobia como crime, já aprovado na Câmara dos Deputados, onde tramita também projeto que proíbe os planos de saúde de limitar a inscrição de dependentes no caso de parcerias homossexuais.
O artigo é otimista quanto a compreensão no futuro e afirma que o "Brasil está vencendo a guerra contra o preconceito, o que signifca fortalecer o Estado democrático de Direito, sem dúvida alguma, a maior prova de desenvolvimento social".

ESCRITOS

Hoje acordei disposto a mudar. E já comecei arrumando os papéis, jogando um monte de tralhas fora. Por um momento chorei ouvindo uma música que muito me emociona. Sabe aquelas que te lembram algo ou fato, pois então, foi justamente uma dessas que tocou no rádio no momento da minha arrumação. Mas o choro cesssou com a música e tão logo para me recompor, coloquei uma dance music, daquelas que adoro ouvir nas baladas paulistanas e me esqueci do choro.

Uma situação engraçada. Tenho o estranho hábito de dormir ouvindo rádio. Geralmente deixo em rádios de noticiário, quase sempre na rádio Eldorado AM, uma das minhas preferidas nas madrugadas. Mas, hoje de manhã ao contrário de acordar com as principais noticias do dia, acordei embalado numa bela canção fúnebre de Chopin. Gostei tanto da música que resolvi ficar mais um pouco na cama e apreciar aquela delicadeza. O que me fez dar alguns cochilos novamente e um sonho maluco me tomou a consciência ou a falta dela. Sonhei que estava em um velório, depois noutro e enfim, despertei assustado e a música ainda tocava. Eu hein! A gente as vezes parece que somos doidos.

Há dias que sou tomado por um sentimento de dúvida. Tenho conhecido muita gente legal nesses período. Tem gente de todos os tipos e tribos. Ao mesmo tempo que me bate a saudade dos amigos que não estão próximos, aquele de Curitiba, sabe?..É claro que não! E nem sou louco de botar o nome dele aqui no blog sem autorização do mesmo. Mas é uma das poucas amizades coloridas que tenho. Quando estou com ele, levanto suspeitas da vizinhança, dos outros amigos que ficam enciumados, dos que me odeiam e que me taxam de "bicha, viado, maconheiro e sei lá mais o quê", mas que também não me interessa essas opiniões alheias, pois se é pra ter um grande amigo como ele, prefiro ser visto com todos esses estigmas mesmo já que não vejo nenhum deles como ofensivos e pra ser sincero, acho que prefiro ser indefinido mesmo e curtir os bons momentos que este grande rapaz curitibano me oferece nos tempos em que passa em Sampa. E a boa noticía para todos, ele está voltando de Curitiba, o que me obrigará a dar uma nova festa, daquelas que também levantam suspeitas, em comemoração ao seu retorno ao chão paulistano.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma vez, quis ser eu mesmo.
Chorei, solucei, balbuciei, sorri.
Não me importava mais quem me fazia
Eu me dei para mim naquele dia.
Era eu, ao menos uma vez.

Queria morrer, muito embora já estivesse morto.
Resolvi viver então.
E conheci alguém muito interessante
Que se chamava...Eu!
Ao ver Eu, ali na minha frente
Ou dentro de mim, sei lá
Quis cumprimenta-lo, mas estava tímido.
Eu me olhava profundamente.Em silêncio.
Seus olhos, muito parecidos com os meus,
Mas que pela profundidade com que me olhava
Tinha certeza que não me pertencia,
Me olhavam em recriminação.
Tristes, grandes, esbugalhados, sem paixão.

Me tremia todo, diante de Eu
Tão bonito, tão sério, elegante e simpático.
Minha fala emudecida, meu olhar condenador
E Eu olhava para mim, como jamais fizera antes.

Não nos dissemos nada,
Apenas nos entreolhamos. Em silêncio.
Dois corpos trêmulos e estranhos.
Quando quis ser eu mesmo,Vi que Eu não morava em mim!

domingo, 12 de agosto de 2007

FILHOS...FILHOS?

Vinicius de Moraes


Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?

Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como os queremos!

Banho de mar

Diz que é um porrete...

Cônjuge voa

Transpõe o espaço

Engole água

Fica salgada

Se iodifica

Depois, que boa

Que morenaço

Que a esposa fica!

Resultado: filho

E então começa

A aporrinhação:

Cocô está branco

Cocô está preto

Bebe amoníaco

Comeu botão.

Filhos? Filhos

Melhor não tê-los

Noites de insônia

Cãs prematuras

Prantos convulsos

Meu Deus, salvai-o!

Filhos são o demo

Melhor não tê-los...

Mas se não os temos

Como sabê-los?

Como saber

Que macieza

Nos seus cabelos

Que cheiro morno

Na sua carne

Que gosto doce

Na sua boca!

Chupam gilete

Bebem xampu

Ateiam fogo

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são!


1913. Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro , no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, na Gávea, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz.

PENSAMENTO PERDIDO

Quando meu coração se aproximou de você
Tive que me afastar; esfriar, dizer não
Já que você mesmo quem dizia, eu não lhe convinha
Nossas maiores coincidências e confidências
Era da amizade e não do coração
Pra te preservar dentro de mim
Me afastei, corri, perdi o rumo
Fui na contramão da nossa construção
Até que a esperança me animou
Mas era ilusão, apenas ilusão
As conseqüências estavam dadas
Por ti querer bem e melhor é porque te perdi
Ou te joguei aos braços de alguém com maior sorte.

Irritação

Sinto uma irritação tamanha nesses dias, em que parece que o mundo pára e para nada encontro uma solução à contento. Devo estar amarrado a algum sentimento, do qual não tive coragem de assumir, ou então, se assumi de fato, não estou sabendo lidar. Estive a pouco diante de uma situação que tanto bem me fazia no passado e que hoje não me trouxe prazer nenhum. Tive vontade de fugir, correr para o computador e escrever para o blog, mesmo que fosse coisas sem importância alguma, como esta suposta crônica. Mas não conseguia fazê-lo por conta da consideração que aquelas pessoas me tem.
Agora até que me acalmei, já que despejei algumas coisas sem nexo neste espaço e pude desfrutar de uma reservada companhia solitária.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

COOPER VIRTUAL

No cooper virtual que faço diariamente pelos mais variados blogs, inclusive nesses cujo link estão aí ao lado, procuro sempre dialogar com os blogueiros, mesmo que não seja através de comentários, mas reflito sobre o que dizem os amigos virtuais naqueles textos e tento subtrair desses escritos algum tipo de lição. E hoje especialmente, lendo um post chamado "Armazenamento de Frustrações", dentro do blog do meu grande amigo Mozart, percebi que é grande meu armário de frustrações, porque elas nuncam cessam e sempre cabem nesse armazenamento. Será que um dia ele não se esgotará, transbordará e se esvairá por aí? Eis abaixo a íntegra deste maravilhoso texto que está no blog "Arquivo de Idéias" do grande jornalista e filósofo Mozart:

"ARMAZENANDO FRUSTRAÇÕES"

Muito me espanta todas as tramas. Uma relíquia que ainda não há patente do desbravador, que com elevado esmero, capturou a perfeição em forma de mulher.Os gestos místicos, os olhares imperceptíveis, todas as faces subjacentes acossadas ao meu olhar tão incitante, mas travestido de puerilidade, que quer te alcançar. Estes meus olhos, tão astutos, tão malandros, tão sequazes do teu desfile ensandecente. Um cemitério de lembranças. Montagens e remontagens de cenas das quais nunca vimos. E insistíamos em modificar a iconografia de átimos raros que permanecem dormindo na memória.Mas tudo, que é tão pouco vivido, solidifica-se na redoma do indelével, inesquecível, indubitável.E aquilo que não se arriscou, aquilo que foi vetado pela incapacidade de transformar os desejos em fato consumado, ainda vive em um exíguo espaço de armazenar frustrações, do qual chamamos de "coração".

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Se minhas mãos pudessem desfolhar

FEDERICO GARCIA LORCA

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das folhas ocultas.

E eu me sinto oco
de paixão e de música.

Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.

Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?

Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?

Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
CANÇÃO - Cecília Meireles

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas

domingo, 5 de agosto de 2007

Eu tive reparando na minha vizinhança nos últimos dias e percebi tamanha ociosidade que lhes cercam. Vivem dizendo coisas alheias como se fossem importantes. É o tal carro do vizinho x que quebrou, a eletropaulo que cortou a luz de outro, a mulher que ficou de vir pra vender bugigangas e não apareceu, o casal gay que está de viagem pela Europa, as latinhas de cervejas na calçada, o lixeiro que ainda não passou, a roupa daquela menina fogosa dançando funk, mexendo com a líbido dos garotos, todos também muito perdidos entre conversas cujo conteúdo não passa de comentários sobre a festa da noite passada.
Alguém grita, o dono do bar aumenta o som, num desses blacks que estão na moda e um grupo começa a se aglomerar e a falar cada vez mais alto e empolgados. Não há nenhuma preocupação com a crise aérea, com a economia, com o renangate, tudo isso não lhes pertence.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Hoje não quero escrever sobre nada. Não estou com vontade de falar. O mundo tá pirado, as pessoas estão loucas e cada vez mais a gente se deixa entrar nessa roda e se perder em explicações, achismos e outras coisitas mais. É hoje, não to afim mesmo!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

DESABAFO

A gente tem mania de sempre se pautar pelo sofrimento dos outros, na expectativa de pormenorizar o nosso próprio sentimento ou então buscar um refúgio covarde.
Que coisa maluca isso né?, como podemos achar que os outros sofrem mais do nós? Mas cada um tem o sofrimento que merece! Ninguém é dono da perfeição e o mundo nada mais é do que a lei de causa e efeito. Mas que efeito maldito esse!

FILOSOFIA BARATA

Derrepente a gente entra numa ilusão de que as coisas tendem a se modificar por si só, e acreditamos meio que extasiado de que seremos melhores na velhice do que na juventude, o que ao meu ver não passa de uma panacéia futurista de quem tem medo do amanhã, como se futuramente a humanidade será outra senão essa mesma na qual vivemos.
E ai me lembro de Schopenhauer, quando diz " somos apenas um ponto, dentro de um pequeno planeta perdido na imensão do universo". Infantilidade a nossa, acharmos que essa mesma humanidade não nos acompanha ao longo dos nossos anos que nos enfraquece lentamente, tornando nosso caminhar cada vez mais penoso, a ponto de recorrermos a nossa terceira perna, antropológicamente falando, da qual todos nós bestializados estamos fadados. Alguns enfeitam as com ouro, outros apenas madeiras de baixa qualidade. Tão fragéis quanto as próprias pernas. Sem falar naqueles que nem a terceira perna são capazes de manusear, acabam em rodas mecanicas.
Não acho que isso desmerece nosso conhecimento, mas ele fica pormenorizado perante nossa fraqueza física e mental, que nos leva a rejeitar os próprios olhos e a negar a própria existência. Mas incapaz de se aceitar dentro de uma realidade que já não nos pertence e o do pouco que ainda detemos, somos ignorantes de engrandecê-los, se gabar em vantagens aos que correm alienados numa humanidade renovada, cujo fim, será o nosso. Que maldição essa!
Alguns acreditam em Deus, outros na Ciência, os mais espertos em nada. Pois o nada é a razão de tudo e é nela que tudo se constrói. Eu sou fruto do nada, a nadificação de Sartre! Não quero me preocupar com esse amanhã que nada mais é do que o reflexo de hoje, perdido em horas mortas. Viverei dentro do meu tempo, mesmo que meu tempo seja ontem e o hoje seja simplesmente a construção do ontem, ou seja a minha razão.