quarta-feira, 29 de julho de 2009

A PERFEIÇÃO E O TEXTO IMPERFEITO


Uma vez achei que tinha encontrado a perfeição numa dessas esquinas da cidade. Mas ela não era tão perfeita como eu imaginava.
Naquele dia a perfeição estava estática na esquina me olhando e me desejando. Pra ser sincero ela me desejava mais do que eu a ela e assim nós trocamos olhares, um sorriso cândido e num súbito a porra da perfeição estava na minha casa, ocupando a minha cama, me dando ordens enquanto eu corria para agradá-la da maneira mais perfeita possível, justamente porque era única. E numa frase caetana, ela invadia os sete buracos da minha cabeça – no meu caso cinco por motivos óbvios.
Tratei a perfeição como uma linda mulher de tez inglesa. Só que no fundo ela não passava de uma puta barata, dessas que se joga para qualquer pé rapado disposto a enfiar seu ego numa caçapa mal desocupada. E então conclui que o melhor é ficar com o imperfeito mesmo, porque ele não consegue enganar ninguém, mesmo quando tenta e no fundo acaba sendo mais sincero, verdadeiro e realizador.
É isso hoje. Sem grandes textos ou ideias, tive vontade de dizer essas bobagens. Sem me importar se trato com perfeição ou imperfeição este escrito.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

UM TEMPO, UM VENTO, HOJE.


Hoje dou lhe um tempo.
O tempo de hoje,
Temperamental,
Sem tempo.
Rápido como o amanhã;
Parcimonioso como ontem
Engajado é o vento
De hoje, que lhe dou.
Nele, o tempo
As têmporas lhe abrem,
E o rumo me mostram
No tempo que lhe dou
Hoje.

Luizinho Brito.
22/07/2009.

domingo, 12 de julho de 2009

O IDIOTA, A TERESINHA E O TERCEIRO


Nós idiotas sempre acreditamos ter encontrado o amor perfeito, mesmo quando ele aparece do nada depois de várias tentativas trabalhosas e tediosas. Imaginem só, sair para caçar, atrair, seduzir, se apaixonar, passar pelos micos de ter que aceitar as diferenças do outro, geralmente uma chatice, até enfim dizer “ Estou amando”, “puxa, não é que estou amando de verdade, gente!” e nem precisamos pensar projetos de vida a dois porque ele acontece naturalmente. Até que um dia, todo o processo de atração, sedução, paixão, blá, blá, blá, vai por água abaixo e em fração de segundos, tudo se acaba e como diz Roberto Carlos, aí sim vai tudo pro inferno, inclusive a gente.
Mas na realidade o que quero falar tem muito mais a ver com a música Terezinha, sabe aquela que diz o primeiro chegou de um jeito, o segundo pior e o terceiro...O terceiro gente! Ah, o terceiro, que chegou derrepente, não disse nada, não trouxe nada e se deu bem. Sim, porque no caso de idiotas, quem chega é que sempre ganha. E nesse caso muito.
O que eu não entendo e estou pagando para ver é alguém chegar para mim e dizer “Estou amando loucamente! Não a namorada do amigo meu, mas o terceiro!” “Que terceiro? Aquele da música Terezinha, sabe?” “Ah, tudo bem, nem todo mundo gosta dessas músicas mesmo”, “Mas o terceiro é especial, galhardo, culto, elegante, cheio de delicadezas e o mais importante, limpo. Gente, se encontrar uma pessoa assim já é difícil, imagine ele aparecer como quem chega do nada, vestido de duas asas angelicais, uma sunga da Kelvin Klaine bem apertadinha e um sorriso cândido. Um presente divino! E então, nos lembramos das promessas aos santos, as simpatias e nos certificamos, elas funcionam!
E as coisas começam a mudar na nossa vida de idiota, e a idiotice vai aumentando na medida em que achamos que somos felizes.
O que impede um autêntico idiota de ser feliz é a possibilidade de existirem outros tantos idiotas por aí a espera do terceiro e o problema maior é que esse terceiro é um só.

sábado, 11 de julho de 2009

RESTROPECTIVA


Eu estava relendo a pouco, alguns posts antigos aqui do blog e um de 27 de Novembro de 2007 me chamou muito a atenção pela sua atualidade. Parece que escrevi esse texto hoje. Logo eu que penso ser renovável a cada instante, estou praticamente o mesmo de um ano e nove meses atrás.

ILUSÃO

Interessante a capacidade do ser humano de se iludir com coisas tão pequenas. Ele cria imagens a partir de um único sorriso cândido e num singelo piscar de olhos vê um novo mundo transcendental.
Abre a mente para o abstrato, colorindo as estrelas, mudando o rumo das coisas que não existem no mundo real, construindo castelos de areia e se esvaindo do chão em que pisa. Incrível isso.
A todo momento faço promessas de que não deixarei espaços para a ilusão, porque penso estar preparado para enfrentar qualquer tipo de situação com equilibrio e racionalidade. Mera ilusão. Sou fraco! E como todos os fracos, me envolvo nas linhas imaginárias de quem levita e perde o controle de si. Fui derrubado! De novo!
Mas como habitualmente faço, me levanto e me recomponho, fazendo a rotineira promessa, que de tantas já não é considerada. Mesmo assim as faço e tento levar a vida um pouco melhor.
E assim caminhemos! Sem saber quem somos de fato e nos iludindo de que somos a cada dia melhores.

EU & ELA


Não resisti. Recorri a ela. Bem que fui forte porque consegui sobreviver sem sequer olhar para um dos seus livros. Acontece que de uma hora para a outra perdi o que ela chama de “inteligência emocional” e uma nuvem de supostos problemas existênciais me cobriram por inteiro e então não via nada além. As soluções, o pragmatismo, a vontade de dizer as coisas diretamente, sem rodeios, devaneios e meias palavras desapareceram e então fiquei sem o que ela chama de “auto – controle”, “auto-confiança”, não sei se com ou sem hífen, nem a língua portuguesa estou entendendo direito. E olha que ela é bem mais fácil do que a arte de viver sem problemas, como ela sugere.
Eu bem que tento viver modernamente, com pensamentos otimistas e visionários, mas como todo canceriano abobalhado, não consegue se desgrudar das morais, das memórias do passado, dos medos, e destas coisas demodé e nostálgica. Essas sensações emotivas ou emocionais me atrapalham muito na tentativa de ser uma pessoa pragmática, direta e objetiva.
Como me acho inteligente, penso que tudo é força de vontade, espiritualidade, equilibrio e um pouco de sorte. Bem, tudo isso é o que ela diz, então não é nada de novo para mim. Aprendi sozinho.
O problema maior dos meus problemas é justamente a insegurança em admitir para mim mesmo o que ela vive dizendo com propriedade nos consultórios de análise, psicoterapia e nos seus best-sellers. É como se eu soubesse por experiência fazer um bom prato e por insegurança, não abrir mão da receita ao lado, mesmo que eu nem dê atenção a ela.
Bom, para não prolongar mais essa chatice de texto, digo que o que me acontece ultimamente, a efervescência frenética, a prodigiosidade; me confunde, me assusta e me deixa inseguro. Por isso, não tive outro jeito, me rendi a ela. A AUTO-AJUDA.
Quando não há jeito que dê jeito, não tem jeito. Os pré e os conceitos, até mesmo a filosofia ocidental, se escondem na gaveta do armário e aí o jeito é recorrer a quem tá mais próximo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

DICA DE LEITURA: O FILHO ETERNO*


É desafiador para um escritor que se propõe a contar uma experiência pessoal num romance, deixar que sua influência biográfica não interfira na construção da obra, o que muitas vezes leva o autor – personagem a se destacar mais do que a própria história que ele queira contar.
Cristovão Tezza conseguiu vencer esse desafio ao escrever a sua experiência como pai de um filho que possuí síndrome de Down no romance “O Filho Eterno” ganhador de vários prêmios importantes, inclusive o Prêmio Jabuti de melhor romance 2008.
“Um filho é a ideia de um filho, uma mulher é a ideia de uma mulher” e mais adiante “ as vezes as coisas coincidem com a ideia que fazemos dela; às vezes não”. A partir deste aforismo escrito logo nas primeiras páginas do livro o narrador, que é um escritor frustrado, descreve com obssessão e originalidade a fatalidade que envolve o protagonista, no caso o Pai. O relato das dificuldades em aceitar um filho não idealizado, expondo as suas crueldades, suas emoções e desejos condenáveis de uma maneira pouco sentimental, negando qualquer culpa “pela soma errática de acasos e escolhas” , habilmente contrapondo terceira com a primeira pessoa deixa o leitor estremecido pela sua maturidade.
Muito elogiado pela crítica que já classifica o livro como uma pequena obra prima, o Filho Eterno está na sua segunda ediçãO.

O FILHO ETERNO
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Ed. Record (tel. 0/xx/21/ 2585-2000)
Quanto: R$ 34 (224 págs.)

* Fiz este texto para o blog " De Olho em São Paulo", cujo link está ao lado direito, acesse.

sábado, 4 de julho de 2009

31 ANOS - SEMANA DE RETIRO CULTURAL OU ESPIRITUAL


Aproveitei a semana de comemoração ao meu trigésimo primeiro aniversário para me presentear com um retiro cultural pela cidade. Por ser um retiro que nesse caso, o Aurélio define como um " Tempo de recolhimento para exercícios espirituais", tive que fazer uma adaptação para "Tempo de se jogar para exercícios culturais". Então assisti alguns filmes, um deles está como dica no post abaixo, aproveitei para ver o show do Osvaldinho da Cuíca no CCJ, e foi divino ver a nata do Samba Caipira e do Samba Paulista reunidos para fazer a boa música paulistana. Frequentei por mais de uma vez a nova Livraria Cultura do Shopping Bourbon, onde comprei e já li o livro do Cristovão Tezza " O Filho Eterno", que logo postarei como dica de leitura como costumo fazer e enfim, me dediquei a conhecer novas músicas e tomar vinho. Foi uma semana bastante produtiva do ponto de vista cultural e também espiritual. Sim, porque a boa espiritualidade precisa de bons argumentos através da arte, da música, literatura e dos momentos de solidão criativa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A PARTIDA - O FILME


Tratar a morte como símbolo de vida é um desafio tão grande que muita gente prefere mantê-lo como um tabu a ser trancafiado em sete chaves. Mas o belíssimo filme japonês ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano e que está em cartaz em alguns cinemas alternativos da cidade de São Paulo é uma excessão. Ao retratar a história de um jovem violoncelista desempregado que começa a trabalhar como embalsamador de corpos na sua cidade natal emociona pela história bem amarrada e pela forma como é encarado essa obscuridade abstrata da vida.
E surpreende por mostrar o quanto de vida há nos rituais fúnebres e a singela ideia de que o último desejo de quem parte é ir bonito e sorridente. Apesar do triste ambiente melancólico e sentimental há espaços para algumas cenas que envolve humor e descontração no telespectador.
O filme merece ser aplaudido em pé porque nos põe a frente de uma sociedade japonesa capaz de condenar um trabalho que deveria ser tão comum a todos os vivos e nos ensina a reconhecer a morte não como o fim de uma vida, mas uma passagem para um outro estágio onde devemos chegar com elegância e alegria.
Para quem quiser assistir, ele está em cartaz no Espaço Unibanco de Cinema da Augusta, sala 5, com projeção digital às 21h20.