terça-feira, 25 de agosto de 2009

POEMA SEM NOME E SEM NEXO, FRASES PERDIDAS

O que há de errado no mundo
Que não se deixa acertar
Ao confundir o arco e a flecha
Na beleza do dia radiante
Com um pequeno momento
De flertação inútil.
E o mundo nos brinda com uma canção
Tão fértil que o pensamento
E triste como a vida
Onde alguns vive a vida
Noutras a vida morre
Sem o gosto e o cheiro
De quem era o sabor
Minha pequena ambição
Tamanha diante do mundo
Regra a vida e entristece
A morte de quem não a mais deseja.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

FATO ISOLADO


Nessa manhã me lembrei de alguns momentos da minha juventude, quando eu fazia parte da Pastoral da Juventude e senti saudades dos amigos daquela época, dos retiros, das conversas, das músicas e do clima gostoso de ter um milhão de amigos.
Hoje os tempos são outros e até a Pastoral da qual eu pertenci naquele momento também não é a mesma.
To afim de fazer um filme!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

ESSE AMOR É DE TERCEIRO MUNDO



De cima de você eu via
Não compreendia, sequer entendia
Um minuto, um segundo...
Esse amor é de terceiro mundo!
Esse amor é de terceiro mundo!

Num momento de lucidez
Em meio a embriaguez
Me via perdido em cima de você
Atado pelo desejo descontrolado de querer ser
Dois corpos fundidos na ardente fricção
Subitamente enlameada por socos da aflição
Eu desejava sair desse submundo
Porque já disse
Esse amor é de terceiro mundo!
Esse amor é de terceiro mundo!

Chega de movimentos
Respeite meus sentimentos
Não me responda com seu prazer
Não quero seu prazer
Espere! Ouça o meu...
Respiro profundo
Me deixe fugir
Esse amor é de terceiro mundo!
Esse amor é de terceiro mundo!

Estonteado, de cima de você eu via
Tudo misturado no que eu sentia
Não sabia o que eu vivia
Mas tudo o que eu não queria
Nesse segundo de razão, era sair do meu mundo
Para viver esse falso amor de terceiro mundo!
Esse amor é de terceiro mundo!
Esse amor é de terceiro mundo!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

MANUELA PARTE 1


Numa dessas noites em que o bar estava lotado e o cheiro de cigarro exalava forte sob uma névoa de fumaça que mal deixava enxergar a cantora de jazz que ignorava todo o ambiente e se entregava elegante a uma de suas canções preferidas acompanhada de um piano ao fundo, Manuela apareceu e se sentou a uma mesa próximo a porta principal. Eu estava perto do palco e disposto a apreciar a cantora, mas a imagem de Manuela sentada ao fundo, vestida com um discreto longo cor de rosa e um olhar mais azul do que o mar tirava minha concentração. Havia tempos que eu não a via pelo bar. Para ser sincero, desde o dia em que nós nos amamos num motel barato que ficava na mesma rua do bar. Me lembro que ela prometera voltar na noite seguinte, quando ainda estávamos embalados sob os lençóis com forte odor de almíscar. Deitado ao lado dela, vi o perfil de um rosto delicado com uma alvura serena e satisfeita, de quem se entregou aos prazeres carnais sem se importar com os exageros ou pudores, se sujeitando inclusive a prolongar o momento até o amanhecer se não fosse seu compromisso conjugal que lhe obrigava a voltar para os braços do marido. O qual só fui ter conhecimento momentos antes de deixarmos o quarto ainda quente de desejo.
Nem sei se seu nome Manuela condiz com a verdade já que quem é capaz de omitir um casamento e trair também é capaz de mentir descaradamente, inventando um nome qualquer.
De onde eu estava, via a sua imagem refletida por um dos espelhos do bar. Ela me procurava entre os homens que ocupavam as demais mesas, não tinha me visto ainda, pelo menos foi o que eu pensara. Seus olhos azuis e brilhantes buscavam atentamente um rosto, que de certo seria o meu. Mas o meu nervosismo fez com que eu me escondesse atras de uma garrafa de uísque. Tímido e sorrateiro, deixei de lado o meu interesse pela intérprete de “Summertime” e me pus a observar os mínimos gestos de Manuela, desde sua mão direita segurando levemente o queixo enquanto o olhar desliza vagarosamente pelas mesas, fixando vez ou outra numa figura masculina que ali estava. Pensei por um momento em me mostrar levantando o pescoço e lhe dando um aceno, mas meu orgulho não deixou. Talvez se eu jogasse algo no chão e me levantasse para pegar ela me enxergaria e me chamaria. O problema é que eu sou medroso e não tentei nenhuma das tentativas, fiquei paralisado, olhando pelo espelho, sem sequer perceber o copo de uísque que estava quase vazio.
De súbito tive uma surpresa. Manuela sorriu. Seus lábios se abriram com uma tenuidade sofisticada, seu olhar se comunicou com um outro mancebo de terno marrom escuro e rosto espinhoso. Lentamente ela se levantou e deixou o bar, balançando as nádegas que se desenhavam pela cor rosa de seu vestido e segundos depois o homem também saiu. E eu, sem me importar com a cantora ou com qualquer outra coisa me levantei e saí do bar na tentativa de ver o encontro.

domingo, 2 de agosto de 2009

TRABALHAR NOS 30 ANOS PARA GARANTIR OS 40.


Passado o primeiro dos anos em que me dediquei a planejar o que eu chamo de aceleração do futuro, percebi que não avancei muito em vários aspectos. Isso me frustra por um lado, mas por outro me ajuda a rever alguns pontos que considero essenciais para a execução do meu plano.
Quando completei trinta anos, há um ano, me comprometi em trabalhar durante os dez anos seguintes para ter conforto a partir dos quarentas. Seria uma espécie de PAC pessoal, onde defini um plano de metas auspicioso interligado a várias áreas da vida, desde profissional, afetivo, familiar e até realizações pessoais como comprar um carro e um apartamento que seja preferencialmente na região central da cidade.
Um plano nada fácil de executar se eu considerar minha situação atual onde não possuo nenhuma perspectiva de melhora no meu trabalho em curto prazo e ainda me vejo atolado em dívidas antigas que adquiri ao longo dos meus vinte anos, fruto de uma juventude irresponsável, sem horizontes, imediatista e consumista. Uma década perdida na categoria “pensar o futuro”, mas bastante produtiva na categoria “prazeres instantâneos”.
Sem grandes arrependimentos do que vivi no passado, o importante é que vislumbrei um novo horizonte a partir do meu trigésimo aniversário e tento a duras penas alcançá-lo.
Como disse no início desse texto, ao analisar o primeiro dos anos planejados, se houve frustrações, não deixo de considerar pontos positivos também. Um deles foi observar o quanto as pessoas com as quais convivo estão comprometidas com esse meu projeto. Vi que muitas delas não se importam com esse meu plano. Consideram auspiciosos demais para ser alcançado e tentam me influenciar a viver dentro de um imediatismo consumista semelhante aos que eu vivia na minha segunda década de vida.
Percebi que maior do que as dificuldades financeiras que terei para me equilibrar e me guiar na concretização deste plano, será o desafio de eliminar da minha mente a influência das pessoas que me cercam, cheias de boas intenções e amizades virtuosas de prazeres mútuos. Terei de ter coragem para assumir o meu plano de aceleração do futuro como o bem maior dessa década, mesmo que para isso eu tenha que cortar na própria carne, me isolando numa solidão necessária, como se estivesse num campo de concentração máxima de onde só sairei quando completar quarenta anos. Tendo a consciência de que somente uma fatalidade me tirará da minha escolha.
Quero entrar na casa dos quarenta anos realizado plenamente para que as décadas seguintes sejam tomadas por realizações extras. Tenho a partir de agora nove anos para conquistar uma formação profissional, uma residência, um automóvel e alguns investimentos que me assegure viver os demais anos com tranqüilidade. Nas questões da afetividade é bem melhor não me envolver de cabeça com ninguém, a não ser que este alguém tenha afinidades de projetos. Caso seja apenas “um terceiro” como descrevi num dos textos acima, é bom que eu mantenha sempre a razão, para isso preciso de muito oxigênio, e leve na superficialidade e no bom humor para não me apegar e colocar tudo a perder.
Tarefa difícil essa, quase um sonho. Mas é a transformação kafkaniana que escolhi para a minha vida e que segurarei com afinco.