domingo, 14 de junho de 2015

Poeta J. G. De Araújo Jorge ***************************************** " Canto Do Poeta Menor " Sou o poeta menor, o trovador humilde, que nasceu nesse Brasil grande, numa vila sem nome, em meio às árvores, aos pássaros, aos rios e jacarés porque o resto não há. Não me recebem. Estão sempre em reunião importante. Estou na rua, com o povo, que "a praça é do povo como o céu é do condor", já cantou o grande Poeta. Não trago quatrocentos anos na sacola, não sou de ferro, não sou de bronze, não desci orgulhoso da alta montanha falando como Zaratustra, - sou um poeta, de barro, como qualquer homem... Não cheguei de Ita, com alma palaciana, disposto a conquistar a grande capital, não invadi os jornais e suplementos construindo "igrejinhas" sem fieis. Sou o poeta menor, o poeta humilde, sem história, que nasceu nesse Brasil grande, numa vila sem nome, pra lá, muito pra lá... - a vila de Tarauacá. Poeta sem brasão, sem orgulhos, sem rodinhas, apátrida entre irmãos, poeta nú e sozinho, com sua poesia, pelos quatro cantos de sua terra misturado com o povo. Sou o poeta antigabinete ministerial sem rondós e sem falsas luxúrias, não sou amigo dos reis, sou simplesmente o poeta da rua, como um violeiro e sua viola, como um cego e seu realejo... Quando toca a minha poesia a criançada vem correndo para ouvir, os trabalhadores param o serviço e comentam, as empregadas e os transeuntes fazem roda. as moças se debruçam nas janelas e ficam cantarolando. Sou o poeta menor. Não me recebem. Estão sempre em reunião importante. Não faz mal. De mãos dadas com o povo, como em noite de lua faço ciranda na rua. (Poema de JG de Araujo Jorge - do livro " Cantiga do Só " 2a edição 1968 )