domingo, 14 de junho de 2015
Poeta J. G. De Araújo Jorge
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" Canto Do Poeta Menor "
Sou o poeta menor, o trovador humilde,
que nasceu nesse Brasil grande, numa vila sem nome,
em meio às árvores, aos pássaros, aos rios e jacarés
porque o resto não há.
Não me recebem. Estão sempre em reunião importante.
Estou na rua, com o povo, que "a praça é do povo
como o céu é do condor",
já cantou o grande Poeta.
Não trago quatrocentos anos na sacola,
não sou de ferro, não sou de bronze,
não desci orgulhoso da alta montanha
falando como Zaratustra,
- sou um poeta, de barro,
como qualquer homem...
Não cheguei de Ita, com alma palaciana,
disposto a conquistar a grande capital,
não invadi os jornais e suplementos
construindo "igrejinhas" sem fieis.
Sou o poeta menor, o poeta humilde, sem história,
que nasceu nesse Brasil grande, numa vila sem nome,
pra lá, muito pra lá...
- a vila de Tarauacá.
Poeta sem brasão, sem orgulhos, sem rodinhas,
apátrida entre irmãos,
poeta nú e sozinho, com sua poesia,
pelos quatro cantos de sua terra
misturado com o povo.
Sou o poeta antigabinete ministerial
sem rondós e sem falsas luxúrias,
não sou amigo dos reis,
sou simplesmente o poeta da rua,
como um violeiro e sua viola,
como um cego e seu realejo...
Quando toca a minha poesia
a criançada vem correndo para ouvir,
os trabalhadores param o serviço
e comentam,
as empregadas e os transeuntes fazem roda.
as moças se debruçam nas janelas
e ficam cantarolando.
Sou o poeta menor. Não me recebem.
Estão sempre em reunião importante.
Não faz mal. De mãos dadas com o povo,
como em noite de lua
faço ciranda na rua.
(Poema de JG de Araujo Jorge - do livro
" Cantiga do Só " 2a edição 1968 )
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