A
Psicanálise e a descoberta do Inconsciente: pressupostos para uma Revolução
Social e Cultural no Brasil
Salvador Dalí
Luiz Brito
Se no passado, início do século XX, a
psicanálise influenciou na configuração da nova sociedade capitalista que se instalava
no Brasil, principalmente através da formação cultural e artística que se
apropriaram dos seus conceitos, das suas análises e pesquisas, dando origem a
um novo olhar à vida do homem comum, às suas expressões populares, valorizando-se
assim as várias formas do sujeito se apresentar na sociedade, considerando a
sua heterogeneidade, racial, de costumes, afetos e conflitos, a emergência desse
novo século impõe refletir novos pressupostos e desafios para ela.
Podemos pensar a psicanálise como
instrumento capaz de direcionar os rumos sociais e culturais no Brasil a partir
de dois momentos distintos. No primeiro momento considerando as transformações
históricas ocorridas no decorrer do século XX, com suas configurações em
decorrência da industrialização, do êxodo populacional e a emancipação das
cidades, que são consequências da inserção do sistema capitalista na sociedade
e as novas modificações que ele fez na vida cultural brasileira até o início do
século XXI. O segundo momento, talvez esse seja o mais interessante para se analisar,
as condições para uma nova revolução estão na constituição social pós pandemia
da Covid-19, na qual se anseia a construção de uma nova forma de viver da
sociedade, perante o tamanho da destruição que ela causou, forçando um novo
olhar para as questões que movem a vida humana como um todo de forma que se faz
necessário considerar o atual momento como um “divisor de águas” entre os dois
mundos. Um que foi quase dizimado pelo coronavírus e outro que tenta se
reerguer a partir dos escombros de traumas, lutos e perdas para a adoção de
novos comportamentos, num ambiente de grande insegurança e mal estar.
Se antes a sociedade brasileira seguia um
rumo no sentido de uma normalidade em consonância com as transformações
mundiais ao mesmo tempo que construía a sua própria identidade, vale lembrar a
importância das manifestações culturais de 1922, num processo de evolução e avanços
sociais e culturais, hoje vivemos num mundo em descontrole, onde a abdicação da
felicidade se deu em razão da busca de uma segurança, reconhecida no movimento
retrógrado que se instalou nos últimos anos no Brasil e em vários países mundo
afora.
Esse
movimento do qual se fala acima e que tem como um dos seus principais aspectos a
restauração de normas de conduta e fixação de papéis anteriormente adquiridos e
que remetem aos velhos valores e costumes, bastante explorados por crenças religiosas,
podem estar no cerne da busca pela segurança, ainda que o custo disso seja a
supressão da liberdade e assim respectivamente da própria felicidade e ser a grande
causa do atual mal estar que desemboca nas mais diversas crises da subjetividade
humana.
Nesse
contexto é que a psicanálise se insere, com a função desafiadora de contribuir
para a possibilidade de uma nova revolução cultural e social, no qual se
procura encontrar uma nova normalidade pós pandemia, ainda que ela esteja
pautada em velhos valores e costumes, é nesse ambiente que se deve pensar um
novo pressuposto.