sexta-feira, 30 de julho de 2010

MINHA AVÓ



Hoje me lembrei de quando eu ainda morava com minha avó. Isso já faz algum tempo, aliás, bastante tempo. Acho que era pelo início dos anos 90. A casa pequena e bastante compacta deixava os móveis integrados e a gente dividia o mesmo quarto ou espaço. Parecia uma daquelas quitinetes que existem no centro de São Paulo.
Minha avó foi uma dessas modernistas que se decidiu viver sozinha, criando as duas filhas, minha mãe e minha tia sem a ingerência do pai que construiu outra família. Escolheu a independência.
Ela soube aproveitar mesmo que a sua maneira, a vida naquilo que pôde, mesmo tendo que trabalhar muito para sustentar as filhas. A sua casa era rodeada de amigos que saiam para os bailes de sábados, até de sextas, enfim, não tinha dia muito certo para uma boa diversão.
Mas os domingos para minha avó sempre foram sagrados e festivos, mesmo hoje quando tem mais de 80 anos de idade e cuja rotina já não comporta mais tantas estripulias.
Era nos domingos que ela fazia questão de se levantar cedo, por volta de sete ou oito horas da manhã, ainda que estivesse passada a maior parte da madrugada nos bailes, para preparar o almoço e receber os amigos, as filhas e os netos para uma macarronada com frango e salada de maionese ou uma suculenta feijoada.
Eu confesso que não gostava muito, desde criança achei que os domingos serviam para acordar tarde, preparar qualquer coisa para comer e voltar para a cama, mas admirava o seu ritual de acordar cedo, tomar um bom banho demorado, vestir um belo vestido estampado, se perfumar, se maquiar com pó de arroz, batom e lápis nos olhos para então ir feliz cozinhar no fogão vermelho e velho, olhando de vez em quando pela janela da cozinha de onde avistava a rua e as pessoas que passavam, cumprimentando um ou outro que passava em alto e bom som “Oi fulana!” “ Oi Sicrano, vem almoçar hoje que tem feijoada!”. Sempre muito bela nos seus vestidos, perfumes e maquiagens. Todo mundo elogiava e eu tinha orgulho de ser neto da Gabriela Cravo e Canela da vila.
Não demorava muito e as visitas apareciam. E o que começava com um simples café com cuscuz pela manhã, terminava com uma animada cervejada regada a forró e músicas bregas no final da tarde, além de muita alegria e conversas fúteis que tornava os finais de domingo muito alegres.
Era muito gostoso viver aquela época apesar da minha sisudez matinal. No decorrer do dia eu bem que gostava de tudo aquilo, perguntava pelas pessoas, bebericava um copo ou outro de caipirinha ou cerveja e era o responsável pelo som. E me exibia como o controlador do som, que hoje seria uma espécie de DJ, colocando as músicas que ela e os amigos adoravam, escolhendo os vinis que mais iam agradar e muitas vezes eu orgulhosamente acertava.
Tenho saudades daquele tempo. Mas hoje, mesmo já bastante debilitada por um início de AVC, com a memória fraca e um pouco de manha típica dos velhos, ela ainda mantém o seu ritual dominical de reunir as duas filhas, os netos e alguns amigos para um almoço e uma tarde de bate papo regado a cerveja que habitualmente sempre termina com ela deitada para descansar e assistir o programa Silvio Santos até adormecer feliz da vida.

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