quinta-feira, 25 de março de 2010

UM CAFÉ NO CENTRO DE SÃO PAULO



Estou aqui na Praça Dom José Gaspar esquina com a Rua Bráulio Gomes no centro de São Paulo.
Chove muito. Uma tempestade desaba enquanto aguardo a estiagem na cafeteria em frente à praça. Um grupo de homens, eram três, se sentou à mesa ao meu lado e isso me constrangeu um pouco porque tive receio de que um deles pudesse olhar disfarçadamente esses escritos e com certa indiferença pensasse: “ Que bobagens são essas que esse moço com cara de menino – por causa do boné verde que eu uso – está escrevendo nesse caderno?”
É bobagem sim, admito, mas são essa bobagens que muitas vezes me dão sentido à vida. São elas que me levam a uma melhor percepção do mundo em que vivo, me ajudando a tirar do peito ou da mente as muitas angústias que me seguem como se fossem fantasmas.
Raios e trovões se misturam ao som de vozes que dialogam entre si, tosses secas e barulho de máquinas de café com talheres poluem o ambiente e por vezes, um cheiro forte de gás se confunde com o cheiro adocicado dos pães de queijos que acabaram de sair do forno, invadindo as narinas.
O grupo de homens, depois de tomar um cafezinho cada um, decidem encarar a chuva e saem da cafeteria, o que me traz um certo alívio para continuar a escrever essas bobagens.
Ouço a voz de uma mulher que devia estar próxima de mim dizer para a acompanhante o que tinha acontecido na reunião e então me lembrei que eu terei uma logo mais, assim que a chuva cessar.
O que não acontece nesse momento, ao contrário disso, ela parece mais forte e densa. Seus pingos batem no asfalto com violência, se estatelando em pequenas gotas brilhantes que escorrem para as guias se encontrando com um volume enorme de água barrenta que vão sei lá para onde. É um espetáculo bonito de se ver. Enquanto espero sentado com uma xícara de café na minha companhia e com o caderno aberto a minha frente, me divirto observando o movimento das pessoas que circulam pelo estabelecimento. Percebo que todos, exceto os funcionários, estão ansiosos no desejo de que a tempestade amenize para poder continuar suas rotinas.
O leitor mais atento deve se perguntar onde é que esse moço com cara de menino por causa do boné verde na cabeça quer chegar com essas bobagens. Eu respondo que tenham paciência porque elas não são só devaneios e passatempos. Existe algo mais, além disso.
Dizem que o centro de São Paulo é uma fonte inspiradora para poetas e escritores e hoje comprovo que é verdade isso. É como se um outro mundo bastante efêmero se transformasse a cada segundo,descobrindo muitas novidades estranhas. E nesse momento, entre todas as pessoas que aqui estão, que por aqui passam, eu também sou um estranho. Uma estranheza que entra dentro de nós no centro de São Paulo.
Essa sensação de solidão mesmo que num lugar público é boa, conforta a alma. Me faz esquecer que a algumas horas atrás eu pensava em abandonar tudo, jogar para o ar tudo que planejei e deixar a vida me levar para onde ela bem quiser e da forma que entender.
Tem horas que a gente se acha fraco e passa a ver as coisas com desinteresse, não se importando com a luta do dia a dia, pensa que viver é chover no molhado.
Quando estamos nessa triste condição, as perspectivas de futuro somem e o que impera é o tédio que nos consome aos poucos.
A chuva está passando, sinal de que é hora de parar de escrever essas bobagens e ir para a reunião.
Apesar desses escritos serem um tipo de exercício é também um desabafo de quem procura respostas e não encontra a não ser nos desafios que são cada vez maiores. Eu penso que a vida é assim mesmo, ora de desanimo, ora de esperanças. Só tenho a agradecer a chuva que lentamente vai parando, se transformando numa garoa fina, bem paulistana, por ter me dado a oportunidade e o privilégio de poder escrever essas bobagens em plena Praça Dom José Gaspar, esquina com a rua Bráulio Gomes:
- Por favor, a conta!

4 comentários:

Unknown disse...

Oie tipo gostaria que moditica-se algomais coisas no site para ficar melhor.
Obrigadão (Y)

Unknown disse...

Gostei desse texto, são coisas bem paulistanas relatadas nessas palavras: a chuva e a curiosidade humana. Me sinto familiarizado com o local, pois já trabalhei lá.
Novamente digo que gostei muito!!!!
Parabéns

Viny disse...

Achei incrivel a sua sensibilidade! Escrever de uma maneira estremamente de bom gosto, uma situação do cotidiano. Do nosso dia-a-dia!!!

Parabéns, Luizinho!

ps. por um acaso, foi no Café Suplicy? kkkkkkk pq eu adoro esse lugar! Bjs!

Viny

Unknown disse...

cara nao sei nem por onde começar ate por que vc escreve muito bem parabens