sábado, 15 de janeiro de 2011

O PEDIDO




Antonio chega ao restaurante, olha para os lados, senta-se a mesa, acende um cigarro e olha pro horizonte até avistar Lena que vem ao seu encontro e também se senta:


LENA: Nossa, que estranho você me chamar para almoçar assim, tão de última hora.
ANTONIO: Me desculpe, mas eu não podia esperar mais ( apaga o cigarro). Quero transar com você!
LENA: O quê?
ANTONIO: Sim, eu tava ensaiando pra te dizer isso e nunca consegui, achei que agora seria o momento.
LENA: Na hora do almoço? E num restaurante?. Sem falar que hoje é segunda – feira e estou no meio do trabalho! Você num acha que é um momento nada romântico pra um pedido tão...Tão...Sei lá, tão direto e objetivo?
ANTONIO: Sim, mas não gosto de muito romantismo. É uma chatice e depois, não consigo lidar com essas situações! Bom, você não é obrigada a fazer sexo comigo, é só dizer não e tudo bem! Aliás, já entendi. Não precisa dizer mais nada.
LENA: Não Antonio, não é isso! É que eu nunca achei que você gostasse de sexo por sexo simplesmente. Vive dizendo coisas difíceis, acha tudo chato. Pensei que tratasse sexo como um ritual tântrico, sei lá. E depois, estou surpresa! É normal que eu me sinta assim!
ANTONIO: Sim, sim! Entendo. Mas então, já passada a surpresa, topa transar comigo!
Um silêncio entre os dois.
LENA: Ai não sei Antônio. Não to acostumada a essas coisas!
ANTONIO: A fazer sexo?
LENA: É! Quer dizer! Assim, sem um clima, no meio do dia!..E depois, isso que você fez não se faz! Se fosse outra mulher se ofenderia e te daria um bofetão na melhor das hipóteses. Na pior, te denunciaria e te aplicaria a Lei Maria da Penha!
ANTONIO: Maria de quem?
LENA: Esquece! Você nunca foi de se informar muito mesmo sobre leis, principalmente quando se trata de direitos da mulher!
ANTONIO: Eu preciso tirar uma dúvida!
LENA: Que dúvida?
ANTONIO: Sei lá, melhor deixar pra lá!
LENA: Diga Antônio! Nada mais me surpreende!
ANTONIO: Acho que sou gay!
LENA: O que? ( Lena se levanta da mesa abruptamente), Você tá louco Antônio! Não acredito nisso!
ANTONIO: Eu também não!
LENA: Não! Que você é gay eu acredito sim, mas que quer testar sua homossexualidade me usando é que não posso acreditar, seu estúpido! Porque não pede pra sua mãe transar com você?
Lena sai do restaurante e Antonio fica observando-a.
ANTONIO: (sozinho) Grossa!
Um garçon se aproxima
GARÇON: O senhor já fez o pedido?
ANTONIO: (olhando para o garçon) Sim, fiz mas ela não aceitou e ainda me ofendeu! Disgraçada!
GARÇON: Não senhor! Digo se já fez o pedido do que vai comer!
ANTONIO: ( Se levanta da mesa) Não quero comer nada e ninguém, até mais! ( sai).

SEU CLÁUDIO - "UMA HISTÓRIA"




Seu Cláudio é do tipo popular que fala com todo mundo e é querido por todos no bairro. Por onde quer que passe sempre tem alguém para ouvir suas piadas ou suas histórias. Quem vê ele passar sempre sorridente, falando alto e feliz da vida acaba se contagiando com sua alegria. Mas nem tudo foi motivo de felicidade na vida de Seu Cláudio.
Seu Cláudio de Brito é casado a 32 anos com dona Iracema e com ela teve 4 filhos. Luiz, Sheila, Fábio e a caçula Amanda.
Durante todo esse período a vida de seu Cláudio e dona Cema passou por muitos altos e baixos. Mas o que sempre predominou entre eles foi o respeito e a cumplicidade, além da esperança de uma vida melhor para eles e para os seus filhos.
Mesmo com todos os percalços que a vida lhe impôs, tendo muitas vezes que enfrentar pessoas e situações adversas seu Cláudio nunca deixou se abater. Com o mesmo sorriso marcado pela vida difícil e com o olhar de quem acredita num futuro melhor, Seu Cláudio nunca perde a hora e o batente. Mal amanhece e lá está ele a plena cinco da manhã feliz da vida indo cumprir sua jornada.
Fanático por futebol e apaixonado pelo Corinthians, podemos dizer que seu Cláudio é um craque em superação e sua melhor jogada foi a boa criação que conseguiu dar junto com dona Cema aos seus 4 filhos que hoje estão tomando seus rumos e sua independência. E seguindo o belo exemplo dos pais.
A palavra pai para seu Cláudio é pouco para sintetizar o grande amigo que ele é da sua esposa, dos seus filhos e de todos os que lhes cerca. É o grande orgulho da família Brito!
E como já disse nem tudo é motivo de felicidade já que nesse ano que passou seu Cláudio teve um dos momentos mais tristes da sua vida que foi enfrentar a morte do seu Dirceu, o seu querido pai e ainda ter forças para lidar com a doença de sua mãe Dona Maria que sofre de Alzhaimer.
E aqui netos e nora prestam uma singela homenagem a esses velhinhos que por tanto tempo acompanharam a luta da família Brito e reitera ao seu Cláudio a sua vocação para superação e que esta é apenas mais uma situação em que o grande desafio é superar a tristeza, olhar o horizonte e perceber como um grande polivalente o quanto viver é bom. Principalmente quando se tem o privilégio de manter uma família que apesar de pequena é unida e fraterna.
Pequena por enquanto porque se por um lado a vida ao seguir seu destino leva pessoas que amamos, por outro preenche a falta com outra felicidade que seu Cláudio e dona Iracema estão tendo em ser avós de primeira viagem do Bruninho.
E o Bruninho é o maior símbolo de esperança que poderia surgir na saga da família Brito e hoje nesta data tão especial seus familiares e amigos se reúnem para lhe prestar essa homenagem e dizer o quanto é bom poder contar com sua alegria, com seu sorriso e com sua presença.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

POESIA - ALMA NO ARMÁRIO



ALMA NO ARMÁRIO

De tantas coisas me prendi
Pensava me libertar para novas experiências.
Para sufocar a solidão. Guardei a alma no armário.
Enfraqueci o coração e dei vida à ilusão.
Acreditei nas batidas e respirei cada vez mais fundo.
O ar falso travestido de lua cheia me enganou.
Soltei gritos de amor verdadeiro na luz fraca
Da liberdade que se esvaiu
Como o líquido vermelho, quente e lúgubre
Passando por entre os dedos
O céu se tingiu numa mancha
Escura como a vida
Despejado no chão duro
como o mundo e a alma no armário
sufocada, trancafiada. Triste e enganada.


LUIZINHO BRITO