sábado, 16 de junho de 2007

CONTINUAÇÃO DA MINHA CAMINHADA NA LAPA

Num ponto qualquer, que não me lembro e que também nada acrescenta nessa história, entrou um rapaz que aparentava ter uns vinte e poucos anos, camiseta verde limão e calça jeans. Me olhou profundamente e sentou-se na outra extremidade, também na janela. Até então, não havia ninguém entre eu e ele. Continuava a ler o livro, mas agora bastante desconcertado com o olhar daquele jovem, que me deu um breve cumprimento, virou-se para a janela e ficou a observar ora a paisagem em trânsito, ora para mim pelo reflexo do vidro. Muito me incomodava saber que ele me vigiava de maneira bastante misteriosa. Tentei puxar na memória, se nos conheciamos de algum lugar, mas não me lembrei de nenhum encontro prévio.
A concentração na leitura era pífia. Aquele jovem me incomodava. Não sei ao certo que tipo de incomodo. No mp3, uma música erudita que eu não sabia identificar de quem era, só sei que eram movimentos longos e lentos. Eu tinha certeza que algo aconteceria ali, talvez um assédio, ou pior, um assalto. Meu sexto sentido me avisava e ele pouco erra nessas questões. Para minha sorte ou não, veio uma senhora meio gorda, que procurava dentre os lugares vazios daquela lotação e que eu mentalmente pedia para que ela ocupasse o banco do meio, que atendeu meu pedido mental e começou a fuçar numa bolsa preta cheia de zippers, a procura de algo. Enfim, voltei-me ao livro do Mario Vargas Llosa e a história de Pochita, Pantita e do capitão Pantaleão Pantoja. Muito grato, é claro aquela senhora, que depois de mexer na bolsa, se aquietou e ficou a tentar ler curiosamente o mesmo livro que eu. O jovem, adormeceu profundamente com o balanço do coletivo. Eu desci e a imagem do olhar misterioso dele me acompanhou até certo ponto, que é este. Que depois de relatado aqui, espero esquecer.

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